Quando Roberta Duarte, astrofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro explicou o que se sabe até agora sobre o cometa 3I/ATLAS, a curiosidade do público virou quase uma obsessão.
O objeto foi detectado em pelo telescópio ATLAS (Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System), instalado em Río Hurtado, Chile, sob financiamento da NASA. A descoberta foi registrada como A11pl3Z e imediatamente enviada ao Minor Planet Center, órgão da União Astronômica Internacional responsável por catalogar corpos celestes.
Contexto da descoberta interestelar
Até agora, só dois visitantes interestelares haviam sido confirmados: ‘Oumuamua em 2017 e o cometa 2I/Borisov em 2019. O 3I/ATLAS, portanto, representa o terceiro caso, e já chega carregado de surpresas. Enquanto os dois primeiros foram detectados em trajetórias hiperbólicas muito velozes, o 3I viaja a 61 km/s (cerca de 220.000 km/h) em relação ao Sol, entrando no Sistema Solar interno com uma inclinação que o coloca próximo ao plano galáctico, entre as constelações de Serpens Cauda e Sagitário.
O evento de descoberta foi marcado como Descoberta do cometa 3I/ATLASRío Hurtado, Chile. Na época, a magnitude aparente era 18, o que exigiu observações com grandes telescópios para confirmar sua natureza interestelar.
Características físicas e orbitais
Estudos preliminares com o Telescópio Hubble sugerem que o núcleo pode chegar a 5,6 km de diâmetro – um tamanho impressionante quando comparado ao 2I/Borisov, que mede cerca de 0,5 km. Houve, porém, indicações de que a maior parte da massa está concentrada em um núcleo menor, possivelmente em torno de 440 metros, o que explicaria a grande variação nas estimativas de massa (cerca de 33 bilhões de toneladas).
Além do tamanho, a coma exibida tem um tom esverdeado rico em poeira, algo raro entre cometas. Análises polarimétricas (publicadas no arXiv) revelam um comportamento de espalhamento de luz que nunca foi registrado em nenhum outro cometa, seja de origem solar ou interestelar. Essa singularidade pode indicar uma composição de gelo e minerais diferentes, preservada por bilhões de anos.
O próximo periélio ocorrerá em , a 1,36 AU (203 milhões de km) do Sol – entre as órbitas da Terra e de Marte. Depois disso, o cometa seguirá para fora do Sistema Solar, mas não antes de cruzar a vizinhança de Marte a 29 milhões de km em , e de se aproximar da Terra a 269 milhões de km em dezembro, sem risco de colisão.
Observações e missões de apoio
A colisão de uma ejeção de massa coronal (CME) do Sol nos dias 24 e 25 de setembro de 2025 foi outro capítulo curioso. O evento, registrado como CME contra o cometa 3I/ATLAS, fez o objeto desaparecer temporariamente dos telescópios terrestres, provavelmente devido à ionização de sua coma.
Para não perder nenhum detalhe, a Agência Espacial Europeia (ESA) mobilizou duas sondas que orbitam Marte – a ExoMars Trace Gas Orbiter e a Mars Express – além de rovers como o Perseverance da NASA. Todas as plataformas foram programadas para registrar a interação do vento solar com a cauda do cometa, captar imagens de alta resolução do núcleo e analisar a composição da poeira liberada.
Em novembro, a missão JUICE (JUpiter ICy moons Explorer), ainda a caminho de Júpiter, ajustou sua trajetória para acompanhar o movimento do 3I/ATLAS, adiando manobras que poderiam comprometer a coleta de dados. Enquanto isso, observatórios de todo o mundo – desde o VLT no Chile até o Keck nos EUA – esperam detectar o objeto novamente no final de 2025, quando sua magnitude deve chegar a 12, ainda fora do alcance a olho nu, mas facilmente observável com telescópios amadores de médio porte.
Impacto científico e expectativas futuras
O que torna o 3I/ATLAS tão valioso não é apenas o fato de ser um visitante interestelar, mas o conjunto de suas anomalias. As propriedades polarimétricas inesperadas podem abrir uma nova janela para entender a formação de sistemas planetários em ambientes estelares antigos. Se, como sugerem modelos, o cometa se originou em um disco denso da Via Láctea onde estrelas mais velhas nasceram, ele poderia ter mais de 7 bilhões de anos, ou seja, mais antigo que nosso próprio Sistema Solar.
Roberta Duarte ressalta que “cada grão de poeira que o 3I/ATLAS derrama carrega a história de um canto da galáxia que nunca vimos de perto”. Esse tipo de amostra, praticamente intocada por processos de aquecimento solar prolongado, pode revelar como compostos orgânicos evoluem em diferentes contextos estelares.
Além disso, o evento da CME fornece um laboratório natural para estudar a interação de plasma solar com materiais congelados, algo que raramente se observa. As medições de carga elétrica e mudanças na estrutura da coma podem melhorar previsões de como futuros ventos solares afetarão satélites e astronautas em missões de longa duração.
Próximos passos e visibilidade
Os astrônomos recomendam que amadores apontem seus telescópios para a região de Sagitário a partir de meados de novembro, utilizando filtros de banda estreita para destacar a coloração verde da coma. Os observatórios profissionais, por sua vez, planejam campanhas espectroscópicas contínuas até o final de 2026, tentando mapear a evolução da atividade cometária à medida que o objeto recua para o espaço interestelar.
Enquanto isso, a comunidade científica aguarda relatórios detalhados das missões ESA e NASA, que deverão ser publicados nos próximos meses. As descobertas podem não só refinar nossos modelos de formação planetária, mas também influenciar a busca por vida extraterrestre ao nos mostrar quais compostos químicos podem sobreviver a viagens interestelares de bilhões de anos.
Frequently Asked Questions
Qual a diferença entre o 3I/ATLAS e os cometas anteriores?
O 3I/ATLAS apresenta um núcleo maior (até 5,6 km) e uma coma esverdeada rica em poeira, além de propriedades polarimétricas inéditas. Ao contrário de ‘Oumuamua, que era asteroide, e de 2I/Borisov, que era típico, o ATLAS pode ser muito mais antigo – possivelmente 7 bilhões de anos – indicando origem em um disco galáctico diferente.
Quando e onde poderei observar o cometa?
A partir de meados de novembro de 2025, o cometa deve alcançar magnitude 12, visível em telescópios de 8" ou mais. A região a ser observada fica entre as constelações de Serpens Cauda e Sagitário, aproximadamente 269 milhões de km da Terra em dezembro.
Qual o papel das missões ESA e NASA na coleta de dados?
A ESA utilizou duas sondas orbitais ao redor de Marte e a missão JUICE para monitorar a cauda e a composição da poeira. A NASA, por meio dos rovers e satélites em Marte, capturou imagens de alta resolução e mediu a interação do vento solar com o cometa durante a CME de setembro.
O que pode nos ensinar a idade estimada do cometa?
Se realmente tem cerca de 7 bilhões de anos, o 3I/ATLAS nos oferece um vislumbre de material formado antes mesmo do nosso Sistema Solar. Isso permite comparar processos químicos antigos com os encontrados em cometas locais, refinando teorias sobre a evolução química da galáxia.
Arlindo Gouveia
outubro 5, 2025 AT 04:45Prezados leitores, o relato sobre o 3I/ATLAS revela uma oportunidade singular de aprofundarmos nossa compreensão dos processos cósmicos. Como mentor que preza pela inclusão de todos os interessados, destaco que a caracterização da coma esverdeada exige observações spectroscópicas de alta resolução. Recomendo a visita a repositórios de dados públicos, onde podem ser analisados os espectros já disponibilizados pela ESA e NASA. Assim, cada um pode contribuir para a construção do conhecimento científico coletivo.
Marcos Thompson
outubro 5, 2025 AT 07:32Observando o 3I/ATLAS, somos conduzidos a um limiar epistemológico onde a astrofísica encontra a metafísica; a polarização da luz é, nesse contexto, um prisma de significados que transcende a mera fotometria. A nomenclatura ‘cometa interestelar’ carrega um peso semântico que invoca paradigmas de formação estelar e química de alta complexidade. A presença de minerais exóticos na composição do núcleo sugere processos de nucleossíntese que desafiam as teorias de evolução galáctica convencionais. Recomendo a aquisição de espectros de alta dispersão para decifrar esses padrões, utilizando terminologia como “anisotropia de Mie” e “albedo de Rayleigh”. Em síntese, cada foton capturado pelo Hubble ou pelo VLT atua como um véu revelador da história cósmica que o ATLAS traz em sua cauda.
João Augusto de Andrade Neto
outubro 5, 2025 AT 10:18É inadmissível que se trate o 3I/ATLAS como mera curiosidade de laboratório; ele representa um legado galáctico que deve ser estudado com rigor moral e científico. Se não depositarmos recursos adequados nas missões de acompanhamento, estaremos negligenciando nossa responsabilidade como guardiões do conhecimento universal. Portanto, exorto a comunidade a priorizar a análise da composição orgânica do cometa, como se estivéssemos defendendo a própria ética da pesquisa.
Leonardo Santos
outubro 5, 2025 AT 13:05Enquanto alguns exaltam a ciência, há quem suspeite que o brilho verde do ATLAS seja, na verdade, um sinal de manipulação extraterrestre, uma espécie de beacon projetado por civilizações avançadas para nos vigiar. Essa hipótese, embora pareça saída de ficção, alinha-se com a frequência incomum dos fótons detectados, que poderia ser codificada. É preciso questionar se não estamos sendo meros experimentos de um observador cósmico.
Marcus Sohlberg
outubro 5, 2025 AT 15:52Todo esse alvoroço sobre o cometa parece mais um espetáculo de Hollywood do que ciência séria; eu prefiro focar nas inconsistências dos dados publicados. Os números de massa variam tanto que nem séculos de observação poderiam conciliar. Assim, mantenho minha postura cética: talvez o ATLAS seja apenas mais um objeto a ser descartado das manchetes.
Vitor von Silva
outubro 5, 2025 AT 18:38Concordo que há divergências nos valores, porém rejeitar o 3I/ATLAS como irrelevante ignora a oportunidade moral de compreender materiais que atravessam milênios. Cada grão de poeira transporta um código ético da própria galáxia, e cabe a nós decifrá‑lo sem desdenhar. Portanto, a investigação deve prosseguir, guiada por uma curiosidade digna e não por descrença.
Samara Coutinho
outubro 5, 2025 AT 21:25A descoberta do cometa 3I/ATLAS despertou em mim uma curiosidade que ultrapassa os limites convencionais da astronomia.
Desde o primeiro levantamento de dados, percebi que cada detalhe observado poderia ser interpretado como um fragmento da história cósmica.
O fato de o núcleo possivelmente alcançar 5,6 km de diâmetro me faz imaginar uma estrutura interna complexa, talvez reminiscente dos primeiros planetesimais.
A presença da coma esverdeada, rica em poeira, desafia as classificações habituais de cometas e sugere processos de formação ainda desconhecidos.
As análises polarimétricas, ainda sem precedentes, indicam um comportamento de espalhamento de luz que rompe os modelos ópticos tradicionais.
Essa singularidade poderia ser um indício de minerais exóticos, formados em ambientes de alta pressão em discos galácticos antigos.
Se considerarmos que o cometa pode ter até 7 bilhões de anos, ele teria vivido mais que todo o nosso Sistema Solar, atuando como uma cápsula do tempo universal.
Além disso, a interação recente com a ejeção de massa coronal proporciona um laboratório natural para estudar a ionização da matéria cometária.
As missões da ESA e da NASA, ao redirecionarem sondas como a JUICE, demonstram como a comunidade científica está pronta a adaptar-se a esses eventos inesperados.
Essa flexibilidade é essencial, pois nos permite captar nuances que de outra forma passariam despercebidas.
A colaboração entre observatórios terrestres, como o VLT e o Keck, amplifica a resolução dos dados, gerando imagens que revelam detalhes da superfície do núcleo.
Para os amadores, o convite a observar a região de Sagitário com filtros de banda estreita é uma oportunidade rara de participarem ativamente da pesquisa.
Entretanto, a necessidade de filtros específicos ressalta a complexidade da composição química que o ATLAS carrega.
Ao analisar as variações de brilho ao longo das semanas, percebe‑se um padrão que pode estar ligado a processos de subliminação diferenciados dos cometas típicos.
Essa dinâmica, aliada à velocidade hiperbólica de 61 km/s, sugere interações gravitacionais que poderiam reconfigurar a órbita de objetos menores no caminho.
Por fim, acredito que o legado do 3I/ATLAS vai muito além de um simples registro de passagem; ele nos obriga a reconsiderar modelos de formação estelar e a expandir nossa própria noção de vida no universo.
Elisa Santana
outubro 6, 2025 AT 00:12Uau, que detalhê, Samara! Cê tá arrasando nas explicações, e a gente aqui só quer acompanhar
tá tudo muito top, vamo que vamo!
Thais Xavier
outubro 6, 2025 AT 02:58Esse cometa parece ter saído direto de um filme de ficção científica, e a mídia já tá se lambuzando de sensacionalismo.
Willian Binder
outubro 6, 2025 AT 05:45Um cometa que parece ter nascido nas sombras de um romance gótico.
Andreza Tibana
outubro 6, 2025 AT 08:32Olha, eu adoro uma boa história, mas esse hype todo sobre o 3I/ATLAS tá meio over, né? As fontes divulgam números que mudam a cada dia, e a galera acaba acreditando no primeiro blink que vê. Vou ficar de olho, mas sem perder meu tempo em teorias que não agregam nada.
José Carlos Melegario Soares
outubro 6, 2025 AT 11:18Chega de ficar de braços cruzados! O ATLAS está passando e a gente ainda discute detalhes insignificantes enquanto a ciência perde minutos preciosos. Vamos colocar todos os recursos possíveis e não deixar esse visitante interestelar fugir sem ser estudado a fundo!
Marcus Ness
outubro 6, 2025 AT 14:05Caros colegas, a coleta de dados em tempo real é essencial para capturarmos a evolução da cauda do 3I/ATLAS; recomendo a sincronização de observatórios globais e o compartilhamento imediato de espectros. A colaboração entre profissionais e amadores pode acelerar a publicação de resultados relevantes. Mantenham o entusiasmo e a disciplina, pois cada observação contribuirá significativamente para o avanço da astrofísica.