Marina Ruy Barbosa encarna Suzane von Richthofen e vive melhor papel da carreira em 'Tremembé'

Quando Marina Ruy Barbosa apareceu pela primeira vez como Suzane von Richthofen na série TremembéTremembé Penitentiary, lançada pela Prime Video em 31 de outubro de 2025, ninguém esperava que o impacto fosse tão profundo — nem ela mesma. Aos 30 anos, a atriz, que passou duas décadas em novelas da Rede Globo, deu um salto que reescreveu sua trajetória: não apenas interpretou uma das figuras mais odiadas da história criminal brasileira, mas transformou o ódio em empatia, o medo em compreensão, e o tabu em fenômeno global. O que parecia um projeto ousado virou o assunto mais debatido do ano — e, segundo críticos e fãs, seu melhor trabalho até hoje.

Um papel que desafiou todos os limites

A série TremembéTremembé Penitentiary, baseada nos livros Elize Matsunaga: A mulher que esquartejou o marido e Suzane: assassina e manipuladora, retrata o cotidiano de criminosos famosos dentro do presídio de São Paulo. Mas o centro absoluto da narrativa é Suzane von Richthofen: filha de uma família abastada, acusada de matar os pais em 2002 com a ajuda de dois amigos. A escolha de Marina Ruy Barbosa para o papel foi controversa — afinal, ela era conhecida por papéis de mocinhas, vilãs dramáticas ou heroínas românticas. Mas foi exatamente isso que a tornou perfeita. "Quero desafiar expectativas e fugir do óbvio", disse ela em entrevista à Forbes em setembro de 2025. E foi isso que fez.

A transformação física e emocional

Diferente de Carla Diaz, que já havia interpretado Suzane no filme A Menina Que Matou os Pais, Marina Ruy Barbosa não buscou imitar a voz ou o olhar da real Suzane. Em vez disso, construiu uma versão mais fria, mais calculista, quase mecânica. Os gestos são mínimos, os silêncios, pesados. A expressão facial quase nunca muda — e quando muda, é como se algo interno tivesse se quebrado. "Ela não é uma monstra. É uma mulher que escolheu o caminho mais fácil para escapar da pressão de ser perfeita", explicou a atriz em entrevista ao TV Fama em 10 de novembro. "E isso é o mais assustador. Porque ela poderia ser qualquer uma de nós." A produção exigiu meses de estudo com psicólogos, advogados e até ex-presidiárias. Ela passou por treinamento de fala, postura, até mesmo controle respiratório. "Fiquei dois meses sem falar com ninguém da minha família. Só para não contaminar o personagem com minha energia", contou. O resultado? Uma performance que fez o jornal Veja afirmar: "Nunca se viu tanta precisão na interpretação de uma vilã brasileira. Não é atuação — é exorcismo."

Polêmica e consenso: o presídio dos famosos

A série dividiu o Brasil. Enquanto alguns acusavam TremembéTremembé Penitentiary de glorificar criminosos, outros viam nela um espelho da hipocrisia social. "Por que só agora nos importamos com o que acontece dentro de um presídio?", questionou o crítico de cinema André Mendes em seu blog. "Suzane foi condenada por ser rica, branca e bonita. E agora, a gente a vê como pessoa. Isso assusta." Mas o que uniu todos os lados foi a atuação de Marina Ruy Barbosa. A UOL, por meio da coluna de Natelinha, foi categórica: "Nada disso foi suficiente para o maior trabalho dela ser exatamente fora do canal [Globo], na Prime Video, em Tremembé." E não foi exagero. Nas redes sociais, hashtags como #MarinaÉSuzane e #TremembéÉReal bateram recordes de engajamento. No Brasil, a série ficou três semanas no topo da lista da Prime Video. Nos EUA, entrou entre os 10 mais assistidos em países de língua portuguesa — algo raro para uma produção nacional.

A moda que vestiu a personagem — e a atriz

A moda que vestiu a personagem — e a atriz

Enquanto a série gerava debates, Marina Ruy Barbosa se transformava em ícone de estilo. Durante as campanhas de divulgação, contou com a assessoria de Antonio Frajado, estilista que já preparou Fernanda Torres para os Oscars de 2025. O resultado? Looks que misturavam elegância e tensão: um vestido de seda da marca The Rown (dos gêmeos Olsen), avaliado em R$25 mil, e uma jaqueta bomber da D'Accori, em couro de bezerro com detalhes em prata, por R$14 mil. Cada look era uma declaração: "Ela não é uma vítima. Não é uma vilã. É uma mulher que escolheu o que queria ser." "Foi o primeiro momento em que me senti livre para usar a moda como extensão do personagem", disse ela. "Suzane usava roupas caras para esconder o vazio. Eu usei roupas caras para mostrar que ela nunca foi fraca — só silenciosa."

Da Globo ao mundo: a virada da carreira

Antes de TremembéTremembé Penitentiary, Marina Ruy Barbosa já tinha provado seu talento. Em Império (2014-2015), como Eliza, mostrou transformação de uma vendedora humilde em símbolo de superação. Em Amor Amor (2015), como Malvina, encarnou uma noiva morta que volta dos mortos — um papel gótico, quase teatral. Em Fuzuê (2023-2024), como Preciosa Montebelo, foi a vilã cômica que a plateia odiava — e amava odiar. Mas tudo isso parecia preparação para algo maior.

O que vem depois? Um novo patamar

O que vem depois? Um novo patamar

Agora, Marina Ruy Barbosa não é mais só a atriz das novelas. Ela é a atriz que ousou. A atriz que transformou um crime em arte. A atriz que desafiou o sistema — e venceu. Nos bastidores, já há negociações com produtoras internacionais para uma possível adaptação da série em inglês. Ela, porém, prefere focar no presente: "Estou grata. Mas não quero ser definida por um papel. Quero ser definida por todos os que ainda virão." E com isso, ela já está escrevendo o próximo capítulo — não só da sua carreira, mas da própria história da televisão brasileira.

Frequently Asked Questions

Por que a escolha de Marina Ruy Barbosa para interpretar Suzane foi tão polêmica?

A polêmica surgiu porque Marina era associada a papéis de mocinhas e vilãs românticas na Rede Globo, enquanto Suzane é uma figura criminal real, amplamente odiada pela sociedade. Muitos questionavam se ela teria a profundidade emocional para encarnar uma assassina fria e manipuladora. Mas sua preparação meticulosa, estudo psicológico e controle de expressões acabaram transformando a crítica em aclamação unânime.

Como a série 'Tremembé' se compara a outras produções sobre crimes reais no Brasil?

Diferentemente de documentários ou filmes como 'A Menina Que Matou os Pais', que focavam no crime e na justiça, 'Tremembé' mergulha no cotidiano dos criminosos famosos dentro do presídio. É uma abordagem mais intimista, quase como uma novela realista. A série não tenta justificar os atos, mas humanizar os personagens — algo que ainda é raro na TV brasileira.

Quais foram os principais desafios técnicos da atuação de Marina?

Marina precisou dominar o silêncio, a expressão facial mínima e a linguagem corporal contida — tudo para transmitir a frieza emocional de Suzane. Ela passou por treinamentos com psicólogos forenses, estudou vídeos reais da acusada e até modificou seu padrão respiratório. O maior desafio foi evitar a caricatura: não tornar Suzane um monstro, mas uma mulher profundamente distorcida pela pressão social e pela busca por controle.

Por que o sucesso global de 'Tremembé' é significativo para a indústria cultural brasileira?

É raro uma série brasileira alcançar o topo de plataformas internacionais sem tradução ou adaptação. O fato de 'Tremembé' ter entrado entre os 10 mais assistidos em países de língua portuguesa — e sido discutido em redes globais — mostra que o público internacional está aberto a narrativas complexas e não apenas a produções com orçamentos altos. Isso abre portas para outras produções nacionais com temas ousados.

Como Marina equilibra sua vida pessoal com papéis tão intensos?

Em entrevista, ela revelou ser uma pessoa organizada e planejadora, que separa claramente sua vida de seus papéis. Ela conta com o apoio do noivo, Abdul Fares, que a ajuda a manter o equilíbrio emocional. "Tenho sonhos próprios, e ele me ajuda a sonhar. Mas quando o personagem entra, eu fecho a porta. É preciso proteger a alma", disse. Essa disciplina foi essencial para não se perder na sombra de Suzane.

O que 'Tremembé' revela sobre a sociedade brasileira?

A série expõe nossa hipocrisia: condenamos Suzane por ser rica e branca, mas ignoramos crimes similares em comunidades pobres. A série não pede perdão — pede reflexão. Por que nos emocionamos com a história de uma mulher que matou os pais, mas não com a de milhares de jovens que morrem em favelas? É isso que 'Tremembé' deixa como legado: a pergunta que ninguém quer responder.