Pedro Ivo Batista alerta: paralelos da COP30 devem ser voz da sociedade civil

Na primeira edição do blog Carta Capital "De Olho na COP30", o repórter Maurício Thuswohl conversa com Pedro Ivo Batista, presidente da Associação Terrazul. O bate‑papo chega a tempo de a COP30 – a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – ser organizada em Belém, Pará, entre 10 e 21 de novembro de 2025, com período pré‑sessoral de 3 a 9 de novembro.

Contexto e importância da COP30

A COP30Belém marca a terceira rodada de submissão das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) do Acordo de Paris. Mais que uma reunião de ministros, a cúpula reúne sessões paralelas como a 20ª sessão do Protocolo de Quioto (CMP 20) e a 7ª sessão da Convenção‑Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (CMA 7). A escolha de Belém, coração da Amazônia, reforça o desejo de dar visibilidade às regiões vulneráveis ao aquecimento global.

  • Data oficial: 10 a 21 /11 /2025
  • Local: Belém, Pará
  • Participantes esperados: mais de 30 mil delegados, representantes de ONGs, povos indígenas e setor privado
  • Objetivo chave: validar NDCs de países emergentes, sobretudo da China
  • Desafio maior: ausência dos Estados Unidos

Entrevista com Pedro Ivo Batista

Veterano de conferências que vão de Rio‑92 a Rio+20, Batista traz um olhar crítico e ao mesmo tempo esperançoso. "Eventos paralelos da COP30 devem representar melhor a sociedade civil, já que serão mais livres da influência dos lobistas do petróleo que dominaram as outras 29 COPs – e devem dominar essa também", afirma.

Desafios de participação

Quando questionado se o número mínimo de delegações já havia sido atingido, ele respondeu com franqueza: "Não. Por um lado temos a expectativa de pouca participação dos países na COP30. Por outro, a ausência dos Estados Unidos é muito ruim porque significa que seu governo não vai se comprometer com os resultados. Trump hoje é o grande vilão do clima e o arauto do negacionismo."

Eventos paralelos e sociedade civil

Batista detalha a agenda de manifestações que pretende dar voz às demandas populares: "Serão muitos eventos. A expectativa está concentrada nas atividades paralelas, principalmente na Cúpula dos Povos e nos atos de rua. No dia 11 de novembro haverá uma manifestação com o tema saúde e clima e teremos também a marcha geral no dia 15 de novembro."

Perspectivas sobre a China e os BRICs

Ele aponta um ponto de luz inesperado: "A surpresa pode ser a China, que anunciou sua NDC em recente reunião da ONU. Como se trata de um país situado entre os maiores emissores, isso pode fazer a diferença nessa COP30. O fortalecimento das ações ambientais dos BRICs é um caminho."

Reação das partes interessadas

Além da entrevista, outras vozes ecoam nos corredores de Belém. O coordenador do lado‑evento "International Land and Forest Tenure", marcado para 12 de novembro, é o próprio Batista, enquanto Marcelo Poppe do CGEE lidera projetos de gestão de terra.

Representantes da cidade, agora membro da rede ICLEI desde 2022, ressaltam que o Plano de Ação Climática Local – PLAC‑Belém, lançado em 2024 com apoio da UE, IUCN e BNDES, já está gerando obras de mobilidade sustentável e reflorestamento urbano.

Impactos esperados e risco de ausência dos EUA

Impactos esperados e risco de ausência dos EUA

A falta de compromisso americano pode reduzir a pressão sobre os negociadores para adotar metas mais ambiciosas. Contudo, a presença de países como a China e a mobilização de povos indígenas podem compensar o vazio. "Se a China mantiver sua nova NDC, teremos um ponto de virada", afirma Batista.

Especialistas em clima da Universidade Federal do Pará (UFPA) corroboram, indicando que, historicamente, a ausência de grandes emissores reduz a eficácia das decisões da ONU. Ainda assim, o aumento da participação de ONGs – estimado em 15 % a mais que na COP29 – pode gerar propostas mais radicais, como a taxa de carbono para combustíveis fósseis.

Próximos passos e o papel de Belém

Com o início oficial marcado para 10 de novembro, a cidade se prepara para receber milhares de delegados. O aeroporto internacional de Belém já reportou um aumento de 35 % no tráfego aéreo previsto para o período.

Ao mesmo tempo, a população local participa ativamente dos debates, organizando mesas‑redondas sobre a recuperação de áreas alagadiças e a proteção de comunidades ribeirinhas. O evento "4 per 1000" reserva três sessões paralelas, duas delas no Pavilhão Francês, reforçando a conexão entre agricultura sustentável e mitigação de gases de efeito estufa.

Em suma, a COP30 chega como uma prova de fogo para a diplomacia climática: sucesso dependerá da capacidade de alinhar interesses de grandes potências, como a China, com a pressão crescente de sociedades civis organizadas nos bastidores. Como bem coloca Batista, "os paralelos podem ser a voz que finalmente será ouvida".

Perguntas Frequentes

Como a ausência dos Estados Unidos pode afetar a COP30?

Sem a presença oficial dos EUA, perde‑se um dos maiores emissores de CO₂ como agente de compromisso. Isso pode enfraquecer a pressão sobre outros países para cumprir metas mais ambiciosas, embora a mobilização de outros grandes emissores, como a China, possa suavizar o impacto.

Que tipo de eventos paralelos estão programados em Belém?

Além da Cúpula dos Povos, há manifestações temáticas – como a de saúde e clima em 11 de novembro – e a marcha geral em 15 de novembro. Também estão previstos três side‑events da iniciativa "4 per 1000", dois no Pavilhão Francês e um na Agrizone, focados em uso da terra e florestas.

Qual a importância da nova NDC da China para a conferência?

Como o maior emissor mundial, a China tem peso decisivo nas negociações. Sua recente NDC, anunciada na ONU, sinaliza metas mais rígidas e pode incentivar outros países a elevar seus compromissos, potencializando os resultados da COP30.

Como o Plano de Ação Climática Local de Belém influencia a COP30?

O PLAC‑Belém, desenvolvido com apoio da UE, IUCN e BNDES, demonstra práticas de adaptação e mitigação em escala urbana. Sua experiência serve de modelo para outras cidades da Amazônia, reforçando a mensagem de que soluções locais são cruciais para alcançar metas globais.

Quem são os principais representantes da sociedade civil na COP30?

Entre eles, Pedro Ivo Batista, presidente da Associação Terrazul, lidera eventos paralelos. Organizações como o CGEE e redes indígenas também têm espaço garantido nos side‑events, ampliando a diversidade de vozes.

Comentários do post (1)

Carlos Eduardo

Carlos Eduardo

outubro 23, 2025 AT 23:55

É impossível não sentir o peso histórico quando falamos da COP30 em Belém. A floresta parece respirar esperança, mas também carrega o medo de ser reduzida a palco de discursos vazios. O alerta de Pedro Ivo Batista chega como um grito que corta o silêncio das negociações. Se os paralelos realmente amplificarem a voz da sociedade civil, talvez consigamos mudar o rumo da política climática. O futuro dos nossos rios depende dessa coragem.

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