A Devoção que Preenche o Pelourinho
O dia 4 de dezembro é uma data esperada por muitos devotos na Bahia, especialmente em Salvador, onde a Festa de Santa Bárbara se transforma em uma celebração que mistura fé, devoção e cultura. Desde as primeiras horas da manhã, o histórico bairro do Pelourinho se enche de pessoas vestidas de branco e vermelho, cores que simbolizam e reverenciam a santa e o orixá Iansã. A festa, que se tornou um Patrimônio Cultural Imaterial do estado, demonstra a força das tradições populares e religiosas que compõem o coração cultural bahiano.
O Alvorecer de Uma Festa
A alvorada festiva marca o início das comemorações. Às 6:00 horas, os sinos da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos tocam alto, chamando os fiéis para uma celebração que transcende o religioso e adentra o carnaval espiritual do povo baiano. Logo depois, às 8:00 horas, a salva de clarins no balcão da sede do CCPI sinaliza o começo de uma jornada de fé pelas ruas do Centro Histórico. A missa campal, realizada no icônico Largo do Pelourinho, acolhe centenas de fiéis em um mar de devoção que celebra não só Santa Bárbara, mas também o espírito comunitário e humano da região.
A Procissão e o Sincretismo
Uma das marcas registradas das festividades é a procissão que serpenteia pelas ruas estreitas e coloridas do Pelourinho. Decorados com esmero, sete andores levam imagens de santos católicos, representações que se misturam com as crenças afro-brasileiras num sincretismo notável. Santa Bárbara, enquanto padroeira dos bombeiros e dos mercados, encontra seu equivalente divino em Iansã, o orixá da tempestade, do vento e do raio. A procissão não é apenas um desfile, mas sim uma caminhada de fé que reflete a resistência e a resiliência de uma cultura que se adaptou e prosperou ao longo dos séculos.
Uma Tarde Musical no Pelourinho
Após a caminhada de devoção, a música assume o papel principal nas celebrações. Diversos largos do Pelourinho se transformam em grandes palcos a céu aberto, onde artistas e grupos locais enchem o ar de alegria e ritmo. Com performances que vão desde o samba, passando pelo axé e culminando em apresentações de candomblé, a música reafirma a essência do povo baiano: diverso, vibrante e solidário. O projeto “Samba de Djanira”, encabeçado por Illy, traz um toque especial à festa com acordes que evocam memórias e esperanças. Ao longo de toda a tarde, cada performance adiciona sua cor única ao mosaico cultural que é Salvador.
Arremates Culturais e Históricos
No coração da festividade está a condução animada de Jorginho Commancheiro, que com maestria conecta tradição e contemporaneidade. A diversidade das apresentações, com artistas como Sílvio Britto e Márcia Short, não apenas entretém, mas também ensina e integra. Esse encontro de gerações, estilos e histórias enriquece o calendário cultural da cidade e reafirma a importância das tradições populares. O Pelourinho, com suas ruas de paralelepípedos e suas sacadas coloniais, serve de testemunha para uma celebração que reverbera até mesmo nas pedras de seus becos seculares.
A Preservação de Um Legado
Preservar e perpetuar a Festa de Santa Bárbara é mais do que manter uma tradição; é garantir que a memória e a identidade cultural viva e vibrante da Bahia continuem a inspirar as gerações futuras. Ao observar o fervor e a paixão dos participantes, torna-se evidente que essa celebração é mais do que um evento religioso – é uma reafirmação da herança afro-brasileira que define e enriquece a Bahia. Com cada canto, cada passo na procissão e cada acorde tocado, o espírito de Santa Bárbara e de Iansã permanece indomável, ecoando pelas ladeiras e varandas do Pelourinho.
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